sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O PROCESSO REVOLUCIONÁRIO TARDA, MAS NÃO FALHA

Ao fazer uma retrospectiva histórica da evolução da comunicação e da informação no Brasil, nos deparamos com várias contradições nas informações passadas pelos próprios jornalistas e pelos construtores de nossa história, a mando de um padrão social, econômico e político, que foi adotado no início do século XIX na Europa, chamado capitalismo. Este modelo chegou ao Brasil com a expansão marítima que de forma devastadora, extraindo ao máximo a fauna, a flora e os recursos minerais que encontraram, dizimaram milhares de índios que resistiam de todas as formas a exploração de suas terras e de seu povo que foi estuprado e escravizado, proporcionando a primeira luta de classe da historia brasileira. Mas o que nos conta os livros de historia, que foi tudo na paz, sem guerra, sem sangue, e ainda por cima, a tribo dos Caetés foram acusados de praticarem o canibalismo com o padre Fernandez Sardinha. Estas estórias sem fundamentos são relatadas somente pela burguesia e para a burguesia, como forma de mascaramento daquela realidade sangrenta e desumana. A manipulação da informação possui suas raízes neste período, em detrimento dos interesses das elites.
No período do Brasil colônia era proibida toda e qualquer forma de imprensa. Tal censura acabou com a chegada da família real portuguesa ao país no início do século XIX. Cerca de 80% da população eram escravos e analfabetos, eles não podiam ter acesso ao conhecimento, eram excluídos dos diretos civis e políticos. Foi quando os letrados começaram a estabelecer a palavra imprensa para eles. “A relação estabelecida com a palavra imprensa era freqüentemente medida pela pluralidade, sendo a leitura oral uma prática comum para os letrados como para os analfabetos”, Villata,1997”. Com o início desta prática oratória em lugares inusitados e pré-determinados às implantações de ideologias, a formação de uma opinião política, a indução inconsciente e informações sobre a realeza, começaram a fazer parte do dia-a-dia dessas pessoas, como já faziam desde o séc.XIV nas demais colônias européias no continente.
Em 1808, circulou o primeiro jornal do Brasil, “O Correio Brasiliense”, que teve como fundador Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, que mesmo em exílio, passou suas idéias liberais sobre a independência e ganhou apoio da população na Revolta pernabucana. “O Correio Brasiliense foi criado para atacar os defeitos da administração no Brasil, temos caráter doutrinário muito mais do que informativo”, esta é uma frase de Hipólito em protesto ao jornal “A Gazeta do Rio de Janeio”, criado pelo orgão oficial do governo português, tinha caráter informativo – informava sobre o cotidiano da famila real. Com a chegada dos europeus surge a charge, um produto singular, amadurecido de formas e conteúdo, cujo traços estão ligados automaticamente aos problemas da sociedade a qual se insere.
Um dos principais icones da luta entre o jornalismo cético de Hipólito e o jornalismo pos-moderno burgues é exatamente a responsbilidade social e, foi graças a persistencia dos dicipulos de Hipólito nesta causa, que em 1908 foi criado a ABI – Associação Brasileira de Imprensa – fortalecendo a classe jornalisica em busca de sua dignidade profissional. Conseqüentemente nas décadas de 1930 e 1940 - Getúlio Vargas acabará de chegar ao poder através do movimento de 1930 e, em 1937 o Plano Cohen faz com que Vargas outorgue uma nova Constituição, aumentando seus poderes e evitando eleições diretas e instaurando a censura – surgiram os sindicatos e as leis e decretos regulamentando a profissão. Além da criação da FENAJ em 1946, a conquista do piso salarial em 1961 e em 1969 a obrigatoriedade do formação universitaria especifica para o exercício da profissão. Como não é o passado que nos instrui sobre a perspectiva do presente, mas, ao contrário, é o presente que nos fornece uma interpretação do passado, são as perguntas e os impasses de cada momento que nos fazem indagar sobre as experiências históricas e recuperar ou descartar fatos e personagens.
O mascaramento da verdade é a forma destruidora que o capitalismo encontra para condicionar e limitar a sociedade de massa, a uma irracionalidade padrão e a uma opressão forjada de democrática durante séculos. Com os avanços tecnológicos na área da comunicação, se imaginava que finalmente todos teriam direito a informações de qualidade, mas o que se vê é o fortalecimento da banalidade cultural transmitida via radio, jornal e tv. Esta lavagem cerebral é diariamente reforçada pelos professores das escolas públicas e particulares, que estão limitados a um conteúdo mínimo de pesquisa, geralmente montado pela classe dominante de acordo com seus desejos e interesse. O que está escrito na constituição brasileira? Quais são os seus direitos e deveres? Quais as obrigações dos nossos governantes? O que realmente aconteceu com nossos índios quando os portugueses chegaram? O que é a inclusão digital e social? Porque os serviços públicos não funcionam? Porque de vinte caixas no banco, só funcionam quatro? Tais perguntas e muito mais ficam mascaradas e não são feitas, porque as massas foram cegadas pela vaidade, competitividade e ganância, dando importância somente ao eu, ou seja, o homem voltou a ser o centro do universo.
Toda esta displicência e conivência da sociedade de massa têm uma boa explicação, ela não tem voz e nem base política sólida. Essa massa está dividida em trabalhadores que são explorados pelas elites, sendo obrigados a trabalhar mais do que devem e recebem um salário ridículo, chegam cansados e geralmente não tem tempo de ler um jornal ou assistir um telejornal e quando consegue realizar tal façanha, a estafa muscular e cerebral não os permite ter uma reflexão consciente da informação divulgada. Tais informações são construídas por profissionais que foram treinados pelas faculdades e seus manuais obrigatórios, seguem o modelo da pirâmide invertida, dão destaque ao grotesco, a violência, o factual, a imparcialidade, escândalos e denúncias, condicionando-o a exercer um jornalismo cor-de-rosa que vai de encontro ao jornalismo cético. Suas informações não são apuradas corretamente e acabam criando elementos fantasiosos, falsificam informações, manipulam os fatos, invertem depoimentos e acontecimentos de acordo com os interesses dos proprietários das grandes mídias. A informação é transformada em mera mercadoria de compra e venda.
“Essa não é a musica que os jornalistas ouvem quando estão mentindo”, esta é a letra de uma musica da banda Mundo Livre S/A, formada por jornalistas que estão completamente indignados com o rumo que a informação ganhou nas últimas décadas. A alienação, o conformismo e a irracionalidade que as grandes mídias vêm implantando na sociedade são facilmente detectados pelas pessoas que possuem um mínimo grau de conhecimento e estudo, já as pessoas que não possuem nenhum conhecimento degustam, saboreiam, acreditam e tomam aquela verdade midiática como sua verdadeira. Mas, é essencial que os profissionais saiam da fase da indignação e busquem a construção de um povo consciente e informado de seus direitos e realidade. Com isso, a batalha travada pelo direito à comunicação não pode parar e sim deve tomar proporções maiores para combater de forma eficaz a violência social causada pelas elites.

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